Comunicação Além das Fronteiras
- Lathara Veríssimo
- 20 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de out. de 2020
Em um período marcado pela crise na educação surge uma Semana de Comunicação para ficar na História.
Por Lathara Ferreira Veríssimo Januário

Durante a pandemia (como também fora dela) uma das parcelas da população mais atingida e esquecida, têm sido a negra e periférica. Isso por conta da enorme negligência do Estado, sustentado por uma estrutura social racista e preconceituosa. As mídias de comunicação têm uma enorme responsabilidade na divulgação de informações para esses sujeitos e sobre esses eles. Dando o protagonismo e a importância a todos que sofrem, sem deixar ninguém nas margens da informação.
Assim, formaram-se importantes organizações de mídia contra hegemônica, que buscam levar informação de forma acessível a todos sem a exclusão ou diminuição dos sujeitos. Pensando na importância desses fundamentos para a formação de um comunicólogo, tivemos a oportunidade de assistir na Semana de Comunicação da UCSal 2020, dois importantes painéis abordando “A pandemia nas periferias pela lente do jornalismo independente” e “Mídia Negra em tempos de pandemia”.
Compostos por importantes vozes da mídia contra hegemônica tanto de Salvador quanto de outros estados do Brasil. Mediados pelo prof. André Santana, realizaram um debate sobre a atuação dos portais de comunicação independentes dentro das periferias principalmente momento de pandemia.
Os palestrantes trataram sobre a importância do saber se comunicar e se conectar com as pessoas, fazendo um paralelo com os vários pensadores e jornalistas de esquerda (brancos). Que se apegaram ao padrão acadêmico de escrita complicada e que hoje não conseguem ser compreendidos pela grande massa. Costumam ser indivíduos brancos, boa parte das vezes bem instruídos, e que se esforçam para se manterem na liderança de todos debates e lutas contra as opressões. Assim tirando o protagonismo do periférico e negro de suas próprias narrativas.
Outro importante ponto levantado foi sobre a desconstrução das notícias falsas que se espalham com preocupante velocidade através das redes sociais. Que possuem públicos alvos bem específicos e que são construídas através de uma estrutura atrativa. O papel do comunicólogo passa a ser não apenas provar a falsidade da notícia, mas principalmente construir a negação de uma forma que esse leitor que crê nas notícias falsas seja atraído para o texto, o compreenda e confie.
A data das gravações dos painéis aconteceu logo após o assassinato do afro-americano George Floyd e explosão das manifestações de Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nos Estados Unidos. E esse foi um ponto chave para realizar um uma análise a respeito da abordagem das grandes mídias sobre o que acontece nas periferias. Como as ações de sujeitos negros e periféricos do Brasil são criminalizadas e ações de negros da maior potência ocidental (EUA) são romantizadas.
Uma pergunta várias vezes repetidas após o início das manifestações foi: “Quando morre um jovem no Brasil, vítima do racismo, onde está o movimento negro?”. A resposta é bem simples: realizando manifestações, acolhendo a família, muitas vezes indo às ruas para queimar ônibus, parar o trânsito. Mas esses atos não são noticiados como manifestações em represália ao racismo, mas sim como atos criminosos de violência.
Mas o que é a SECOM?
O período letivo de 2020.1 se encerrou de maneira única, com o acontecimento de uma das mais importantes Semanas de Comunicação da Universidade Católica do Salvador de 01 a 06 de junho. Foi a primeira edição internacional e 100% on line, contando assim com participantes de diferentes países. O evento, que é organizado professores e alunos do curso de comunicação, contou com importantes mesas de debate, painéis, entrevista e conferências magnas. Além do apoio e participação de grandes instituições do mercado de comunicação, como a Central Outdoor, a ALARP, ABPR entre outras.
A pandemia trouxe para todo o mundo perdas irreparáveis e a necessidade do isolamento social, para proteção da vida, trouxe como consequência o adiamento e cancelamento de muitos eventos. Assim os meios de comunicação se tornaram essenciais para a continuidade das atividades e a minimização dos prejuízos trazidos pela quarentena.
Pensando nisso, uma edição completamente inovadora da SECOM foi pensada, para que fossem integradas diferentes mídias sociais na construção de um evento permitisse uma conexão que fosse além dos limites espaciais. Com isso, a Semana de Comunicação acabou se tornando uma oportunidade para um grande evento de dimensões para além da cidade de Salvador.
A SECOM é um evento que acontece anualmente desde o início do curso de comunicação na UCSal. A princípio, organizado pelos alunos acabou perdendo a força um pouco antes da transferência do curso do campus Federação para o campus Pituaçu. Pensando em não deixar que a Semana de Comunicação fosse deixada de lado, logo após a mudança de curso, o Coordenador de Comunicação na época captou a organização para o corpo docente. Mas até então era um evento interno da faculdade.
No ano de 2019, quando assumiu a Coordenação de Comunicação, o Prof. Dr. Marcello Chamusca buscou ampliar o evento que antes era restrito ao curso. Na sua primeira edição no novo modelo de gestão trouxe diversos convidados representantes do mercado de comunicação. Buscando através disso, conectar os alunos com a realidade profissional da Comunicação Social.
Já o ano de 2020, que tinha grandes razões para trazer um hiato para a tradição do evento, trouxe na verdade uma revolução, fazendo com que este fosse um dos maiores da história da Universidade. Trazendo participantes de diversas regiões não só da Bahia, como de vários países da América Latina.
Contou ainda com a participação de importantes comunicólogos tanto da grande mídia quanto das mídias contra hegemônicas. Além de grandes profissionais de Relações Públicas Latino Americanos. Que se uniram para debater os diversos aspectos da pandemia, o futuro do mercado de comunicação e as responsabilidades dos profissionais que hoje atuam na área.
PAINEIS DE MÍDIAS ETNICAS E INDEPENDENTES
Por isso, essa forma de construir as matérias, de produzir informações precisa urgentemente ser revisto. E esse é o trabalho constante das mídias étnicas independentes. Para que quando uma mulher branca seja negligente com o filho da empregada, não seja ela a protagonista da história, mas sim a mãe que perdeu seu filho. Que a mãe preta e periférica seja escutada e receba atenção necessária por ser ela a pessoa diretamente afetada pelo crime.
AINDA DÁ TEMPO DE ASSISTIR!
Boa parte dos vídeos da Semana de Comunicação da UCSal foi disponibilizada na página da WebTv UCSAL no Facebook, lá pode ser encontrado os dois painéis além de muito conteúdo interessante. Você pode acessar na aba vídeos ou na aba “publicações”, onde estão organizados em salas de vídeos de acordo com os dias e horários.
Acesso no endereço: facebook.com/webtvucsal/.
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