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50 anos de Genildo Lawinscky no Jornalismo: os desafios e virtudes do empreendedorismo

  • Farol Soteropolitano
  • 19 de jun. de 2021
  • 9 min de leitura

Atualizado: 17 de ago. de 2021

Em entrevista concedida ao Farol Soteropolitano, Genildo Lawinscky relata sua experiência no jornalismo e os desafios para empreender na área digital.

Por Jardel Messias e Lucas Pacheco


O Jornalismo passou por uma grande transformação nos últimos anos, causada pelo avanço tecnológico e aumento do uso de meios digitais entre os leitores e produtores. Essa mudança de hábito provocou uma nova forma de consumir conteúdo, estimulando uma alteração na forma de fazer o Jornalismo. Meios tradicionais adaptaram-se para uma nova realidade, onde o jornal impresso, a televisão ou o rádio não são mais suficientes para manterem-se em evidência.


Esse processo de migração para os meios digitais e redes sociais potencializou um espectro maior de oportunidades de empreendedorismo entre os jornalistas, onde foram criados novos cenários para disseminar informações, em um tempo mais veloz, dinâmico, e com um alcance mais difuso. Os próprios leitores adaptaram-se para encontrar conteúdos mais próximos de suas escolhas ou interesses, com veículos e mídias diferentes, levando a informação sob as mais diversas linguagens e características.



Genildo Lawinscky completa 50 anos de carreira no Jornalismo e empreendedor nas mídias digitais. (Reprodução: Catado de Cultura)


Um destes empreendedores é Genildo Lawinscky, renomado jornalista baiano, que completou 50 anos de carreira no dia 27 de abril de 2021, com passagens por diversos veículos tradicionais como a Rádio Excelsior, TV Itapoan, TV Bahia e tornou-se fundador do site e canal Agora na Bahia. Em entrevista concedida para o Farol Soteropolitano, o jornalista fala das suas primeiras experiências no rádio, televisão e revela como é empreender no Jornalismo Digital.


Primeiros passos na carreira


A trajetória de Genildo no Jornalismo começou bem cedo na cidade de Itabuna, região sul da Bahia. Aos 14 anos de idade, o ainda menino trabalhava vendendo temperos e miudezas na feira livre e, aos domingos, vendia laranjas no Estádio Municipal da cidade. Com seu inseparável rádio vermelho, Genildo percorria os degraus do estádio, observando os repórteres e jogadores, até decidir que queria isso para a vida.


“Então eu ficava vendendo e olhando para o campo, porque era tudo pertinho lá no estádio antigo de Itabuna. Futebol profissional mesmo. O Itabuna Esporte Clube jogava com o Bahia, que tinha grandes jogadores na época. Então eu fui me apaixonando por isso e coloquei na minha cabeça: vou trabalhar entrevistando jogadores.”


Sua primeira oportunidade surgiu na Rádio Jornal de Itabuna, quando dois repórteres locais saíram da empresa para estudarem em Salvador. Genildo identificou a oportunidade para concorrer às vagas. Sua coragem e força de vontade levaram o jovem para realizar o teste na emissora. Embora não tenha sido aprovado para o cargo dos seus sonhos, conseguiu a oportunidade de ficar dentro da rádio, para acompanhar os programas esportivos e aprender os ofícios da profissão.


“Em um determinado dia eu estava na feira e aí que começa minha trajetória no rádio, num sábado exatamente, quando ouvi os dois repórteres que ouvia muito fazendo o programa chamado O Esporte em Primeiro Lugar. José Roberto e José Abelardo, se despedindo da Rádio Jornal de Itabuna, dizendo que tinham sido aprovados no vestibular e estavam vindo para Salvador para trabalhar. Aí eu disse, é minha chance de ir trabalhar no lugar deles. Por coincidência, a Rádio Jornal de Itabuna ficava a poucos metros da feira. Eu olhava da barraquinha que eu vendia as minhas coisas e via um prédio de três andares, né, um sobrado, que a gente chamava antigamente o sobradinho da Rádio Jornal de Itabuna. Fiquei lá querendo entrar com aquela roupinha surrada e tal, aquele menino feio. E consegui naquele dia exatamente, um sábado, conversar com uma pessoa que foi extremamente importante na minha vida, essa pessoa é Valdemir Andrade. Eu não sabia o que falar, como falar, um menino sem nenhuma experiência, nem nada e aí eu encostei nele, não com essas palavras, mas o papo foi esse. Eu disse a ele que queria trabalhar na rádio. Então eu fiz o teste lá. Claro que eu não fui aprovado como narrador. Claro que eu não fui aprovado como Locutor. Mas ganhei uma coisa importante: a promessa de que se eu quisesse aprender, eu aprenderia. ”


Após o começo na Rádio Jornal de Itabuna, Genildo se destacou e foi convidado para trabalhar em Salvador, na Rádio Excelsior da Bahia, tendo passado também pela Rádio Clube de Salvador, por onde cobriu diversas Copas do Mundo, Mundialitos, a despedida de Pelé e diversos torneios dos mais variados esportes. Também passou pelo jornal Tribuna da Bahia, na época dirigido pelo imortal João Ubaldo Ribeiro, e pelo antigo Jornal da Bahia. Na televisão, teve passagens pela TV Itapoan, tanto no período em que a emissora era ligada ao SBT, quanto no período como afiliada da Record, migrando para TV Bahia em seguida.


O Agora na Bahia e os desafios do empreendedorismo no Jornalismo


A ruptura com a TV Bahia pegou vários telespectadores de surpresa e o próprio Genildo quando foi comunicado do seu desligamento. Com 60 anos e diante de um mercado bem concorrido, a primeira sensação foi de ficar "sem chão". Algumas noites sem dormir e esperando o telefone tocar na espera de um novo desafio para sua carreira.

Apesar de não gostar tanto do formato de um blog, Genildo teve a iniciativa de montar seu próprio negócio através do Agora na Bahia. Começando tudo do zero, investindo em equipamentos e locações para lançar o site, bem como as redes sociais.


Genildo deu um pontapé para se manter no Jornalismo através do Agora na Bahia, o qual se mantem até hoje. (Reprodução: Agora na Bahia)

No dia 20 de janeiro de 2016, o site foi inaugurado com uma equipe de jornalistas e um suporte comercial, voltado para o marketing. Em entrevista, Genildo reconheceu que poderia ter conduzido o começo de outra forma, com mais planejamento e "pé no chão". Posteriormente, todo o investimento acabou não dando o retorno esperado e o jornalista teve que voltar atrás e encerrar as atividades.

Mesmo com as dificuldades, Genildo se manteve comprometido com as notícias e permanecendo o canal no YouTube, o qual conta com pouco mais de 23 mil inscritos. Embora não receba nenhuma remuneração por isso, o jornalista mantém sua paixão pelo Jornalismo ativa, sempre se comprometendo com as notícias da capital baiana.


“Uma sede no Mundo Plaza, computadores que eu comprei, máquinas. Investi o que eu tinha recebido lá. Tudo de primeira, computação gráfica, tudo. inco contratados com salário de mercado e mais eu. Mais as despesas decorrentes dessas compras, mais o aluguel e mais o condomínio e tal e teve mais o departamento comercial. E eu na expectativa de que a partir dali minha vida estaria resolvida, tanto do ponto de vista do trabalho e estava realmente e do ponto financeiro. Pronto que vamos ganhar dinheiro a rodo aí. E começamos a correr atrás e o povo não anunciava nessa terra. Promessa? O que eu juntei de promessa, é sério. Eu peguei uma relação do que tinha de empresa. E no final de 2016, eu cheguei a conclusão de que se eu não tomasse uma providência de parar tudo, eu estaria frito, devendo até hoje, até o cabelo do couro da minha cabeça. Porque tudo o que eu ganhei, agora uma revelação, praticamente tudo o que eu ganhei nestes anos de trabalho, eu investi. E aí não queria mais o site. Mantenho o canal no YouTube até hoje. Não dá dinheiro porque o YouTube não paga por jornalismo, não ganho nenhum centavo por isso, mas mantenho lá, tem 23 mil inscritos, mais de 1.600.000 visualizações e eu vou tocando a vida dessa forma”.


A evolução do jornalismo dos meios tradicionais para o digital


Quanto à evolução do jornalismo, Genildo enxerga um grande crescimento do jornalismo digital, porém não acredita que esteja havendo ou possa haver uma perda de força das mídias tradicionais. Ele afirma que as redes sociais têm ajudado a facilitar bastante a transmissão das notícias, sobretudo nesse momento de pandemia, porém que deve haver um cuidado e um filtro para que se consiga separar quem faz jornalismo profissional de quem não o faz.


“Eu sou um crítico, mas muito forte mesmo, de algumas formas de se fazer jornalismo. Eu só espero que a gente possa filtrar muito o trabalho de quem efetivamente faz e de quem não faz jornalismo de uma forma profissional. Que é essa rede social que está facilitando a transmissão da notícia, facilitando a chegada da notícia ao telespectador. E isso vem a ser positivo de outras formas para todos nós. Que toda plataforma possa ser utilizada como um meio de levar a coisa de uma forma profissional. (...) Hoje tá tão fácil colocar notícia e conteúdo no ar, que eles não estão mais exigindo a qualidade. Eu estava assistindo a telejornais essa semana e vocês devem fazer isso com interesse também e estava vendo o pessoal fazendo jornalismo de colaboração. Antigamente isso não podia acontecer, antigamente isso não existia, porque isso deve ser feito pelo jornalista. O que vai acontecer? O trabalho que essas pessoas estão fazendo em lugar dos jornalistas está ocupando o espaço de um profissional que ralou num banco de faculdade, que ralou, que tem a ciência daquilo. Claro que o jornalista não é o dono da verdade, não sabe de tudo sozinho. A gente não faz nada que seja bicho de sete cabeças, mas se não fosse necessário estudar, não existiria faculdade, não seria necessário diploma e o que vocês estão fazendo hoje”.


Genildo destaca também que a tecnologia é uma grande aliada da comunicação e do jornalismo. Porém, afirma que toda a evolução tecnológica acabou dando espaço para uma involução no conteúdo.


“Do ponto de vista tecnológico, houve uma grande evolução, mas uma enorme evolução no jornalismo, sem dúvida alguma, tudo está progredindo. A cada dia descobrindo uma coisa nova. Eu não conseguia transmitir da BR-324 até pouco tempo, sem que para lá fosse um carro de reportagem grande, que tinha que suspender aquela antena enorme, dirigir pra lá. E fazia testes, eu ficava cansado de ficar: alô, alô, alô, 1,2,3; 1,2,3; 1,2,3; 1,2,3. Aí eu tinha que subir um helicóptero para aquelas coisas lá de cima e hoje você usa simplesmente um drone. E tudo vai para o ar independentemente da qualidade do conteúdo e aí vem o grande problema que eu discuto. Nós tivemos uma grande evolução do ponto de vista tecnológico, mas tivemos uma involução na questão do conteúdo. O conteúdo hoje, me permitam e me perdoem dizer, eu acho, na grande maioria dos casos, absolutamente pífio. Você vê uma notícia de manhã em um telejornal; você vê essa notícia meio dia no telejornal, a mesma notícia; e, de noite, essa notícia está de novo no telejornal noturno. E aí você diz: mas não é pra repetir? Sim. Repita, mas progrida. Avance na informação.”


Quanto ao espaço cada vez maior do jornalismo digital, por ser produzido em um ambiente no qual todo mundo pode escrever e ter mais acesso; onde cada vez mais têm surgido diversos sites, blogs e páginas em redes sociais voltados para a comunicação jornalística, para a transmissão da notícia, Genildo mostra preocupação quanto a possibilidade do jornalismo conseguir sustentar o bom jornalista do futuro.


“Todo mundo resolve criar um blog, todo mundo resolve faturar em cima de alguma coisa. Os órgãos oficiais hoje em dia, para que façam um anúncio, porque todo mundo vive de publicidade, só pra dar um exemplo, para que você consiga uma publicidade, você tem que apresentar uma série de documentos fiscais. Documentos de registros da sua empresa, o documento de que você pagou o imposto. É tanta coisa que exige, mas ninguém exige uma coisa. Ninguém. Sabe o que é? O diploma. Ninguém exige, no mínimo, o registro daquele responsável. Se aquele cara é jornalista ou não é. A DRT ou onde for. Ninguém exige isso. Só querem saber se você tem documento, se você tem o registro da sua empresa junto à Receita Federal, Secretaria da Fazenda. Mas ninguém exige que o responsável se apresente como jornalista. Todo mundo exige a carteirinha do médico, do advogado. Você apresenta e a pessoa pega e olha. O cara imprime uma carteira, pendura na parede, pendura o crachá no pescoço e ele quer se achar o dono, que ele pode. Então, eu vejo a nossa profissão lamentavelmente com muita preocupação. Mas com muita preocupação mesmo”.


Diante desse cenário, o jornalista aponta que é necessário parar e refletir para não termos problemas graves no futuro.


“Eu não sei, eu não quero desanimar vocês todos que estão conversando comigo agora. Eu não quero desanimar. Mas a preocupação é muito grande. Se a gente não der uma “freadazinha”, uma parada, a gente vai ter problemas graves. Principalmente com o que a gente vive hoje, do ponto de vista político, aqui no nosso Brasil, com essa visão que se tem do trabalho do jornalismo. Infelizmente, lamentavelmente, a gente não tem apoio nenhum, respaldo nenhum. A ideia de quem está lá em cima, você já sabe qual é, é exatamente o contrário daquilo que a gente briga. A ideia é destruir e não construir o que a gente pretende ao longo do tempo, que é uma profissão forte, uma profissão que possa construir exatamente os seus objetivos e que seja ética. Lamentavelmente querem outra coisa que a gente vê por aí afora, rapaz, é tanto blog, tanto site, tanta coisa. É tanta gente se dizendo digital influencer. Olha, eu fico invocado. Digital de que? Influenciador de que? Porque as pessoas confundem ser influenciador com ter seguidores, entendeu? Eu tenho milhares de seguidores, eu tenho inúmeros. Eu tenho perfil no YouTube, eu tenho perfil no Instagram, eu tenho no Facebook. Eu tenho três perfis lá, mas eu posso dizer que sou influenciador? Não. Apenas as pessoas gostam do meu trabalho, meu nome é popular, é conhecido e me seguem. Mas aí eu me considero influenciador? Influenciador de que? Então, a minha preocupação é muito grande em relação à nossa profissão, com toda sinceridade. Eu peço desculpas aos colegas e a todos aqueles que estão agora entrando. Não é ser pessimista não. Mas eu gosto muito de ser realista. Eu nunca gostei de enganar e ficar andando pelos cantos. Eu gosto de andar no centro da história. E olhando pra frente. Eu não estou vislumbrando uma luz enorme no fim do túnel, não. Estou vendo, ó, uma pontinha não muito grande. Agora, cabe a vocês, a todo mundo que está aí nesta luta, aos colegas a continuarem nessa luta. Continuar nessa luta para que a gente chegue lá na frente e quando encontrar essa luzinha, abra o buracão, pule fora e vá pra o mundo. Sempre.”



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