Entre salas reais e virtuais: um semestre para recordar
- Jardel Messias
- 20 de set. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de out. de 2020
Professores partilham vivências e experiências para se adaptarem às mudanças trazidas no ensino por conta do Coronavírus.
Jardel Messias Silva
O mês de março de 2020 foi marcante para estudantes, professores e toda a sociedade. A pandemia originada pela transmissão do SARS-CoV-2, popularmente conhecido como Coronavírus, gerou uma série de mudanças comportamentais e sociais, perceptíveis pelo distanciamento, uso de máscaras e álcool em gel. Segmentos como escolas, universidades, restaurantes e estádios, foram fechados por tempo indeterminado, enquanto a melhor opção o isolamento em casa.
Diante deste cenário, o setor educacional sofreu um impacto significativo. As salas cheias e corredores preenchidos deram lugar ao silêncio, enquanto alunos e professores passaram a ocupar outro tipo de ambiente: o virtual. Os mais diversos cursos adaptaram-se ao “novo normal” para transmitir as aulas através de plataformas online como o Google Meet, Zoom, entre outras; para não deixarem os alunos desamparados de um bem tão precioso como o conhecimento.
Para os estudantes, a mudança do real para o virtual já seria bem significativa. Todavia, os professores também sofreram impactos nesse período, seja no aspecto pessoal ou profissional. Foi o caso de Velda Torres, professora no curso de Comunicação da Universidade Católica de Salvador, cuja promoveu mudanças em sua rotina para conciliar as atividades. “O maior desafio foi conciliar as atividades profissionais com o trabalho doméstico, pois precisei me dividir entre os serviços domésticos e profissionais, o que gerou uma sobrecarga muito grande. As aulas remotas exigiram muito mais trabalho do professor em comparação com a modalidade presencial, na preparação das aulas, volume de atividades para correção, demandas dos alunos pelo WhatsApp, entre outros.”, comentou Velda, a qual leciona no curso há 9 anos.
Para Alfons Heinrich, professor e comunicólogo há mais de 20 anos, a mudança da rotina acabou sendo um empecilho. “Acredito que o maior desafio foi a rotina no monocromatismo, de você não ter um outro espaço. Estar naquele espaço seu, pessoal, familiar, e dali não sair para lugar nenhum. Então não houve esse escape que é importante; esses novos horizontes, essas novas cores do dia-a-dia. Não poder ir até o campus talvez tenha sido o maior desafio.”
Cercado e apaixonado por desafios, o professor e jornalista Haroldo Abrantes avalia positivamente sua adaptação, a qual acredita ser mais desafiadora para os alunos. “O maior desafio na verdade foi para os próprios alunos que tiveram dificuldades para se adaptar com a internet. Eu gosto de desafios, minha vida foi cheia de desafios. O Jornalismo em si já é um desafio, então encarei muito bem. A principal adaptação foi a auditiva. O que estamos exercitando mais são aulas de áudio e durante as aulas a gente não se vê. Então me acostumei a ouvir e sentir o ânimo dos alunos, os sentidos tornaram-se mais aguçados. Você chega à aula muito mais preparado. Não dá mais para fazer tanto um esquema no quadro, ir montando de acordo com o diálogo, embora no semestre passado tivessem muitos debates. Mas você tem que estar preparado para o caso de não haver debates. Por isso a dificuldade acaba sendo maior entre os alunos, pois em algumas turmas, os alunos ficam muito calados e por conta desse momento, não tem como provocá-los tanto sem a presença física, em algumas vezes”, relatou Haroldo, também antropólogo e repórter fotográfico, dedicando-se ao ensino desde 2016.
A ausência do contato físico acabou não sendo um grande impedimento aos professores na adaptação para as salas virtuais. Embora tenha a mudança de rotina, costumes e preparações, ambos acostumaram-se bem com as novas ferramentas. “Para mim pessoalmente não foi tão difícil, porque já atuo com EAD há bastante tempo, então já tenho um bom grau de auto organização. Pelo contrário, facilitou muito, a gente conseguiu se adaptar muito rápido enquanto grupo de professores. Como são professores de Comunicação, muito ambientados no formato online, aconteceu a restrição de ir ao campus pela manhã e pela noite já estávamos pelo online, sem muitos problemas, pelo domínio da linguagem”, relatou Alfons. Apesar da boa adaptação, os professores sentem falta das aulas presenciais.
O semestre anterior foi de enorme adaptação e para o semestre atual, não será nenhuma surpresa o período de aulas virtuais. Entretanto, as expectativas são cada vez maiores para novos desafios, aprendizados e aspirações. Alfons acredita em novos caminhos para serem trilhados. “Adaptamos linguagens, aprendemos a trazer novos itens para as disciplinas, porque o formato online prende mais, pede mais atenção.”, comentou o professor.
Por outro lado, Velda Torres espera uma maior interação dos alunos para melhores condições de aprendizado e ensino: “A minha expectativa é que ocorra uma participação maior dos alunos nas aulas remotas e que passem a utilizar a câmera aberta para criar um espaço de aprendizagem e mais aproximação com o professor, tornando o espaço remoto de aprendizagem mais próximo dos espaços presenciais.”
Embora persista por longos meses, a pandemia vai encurtando seu percurso com uma redução tímida no número de casos, sem esquecer da grande quantidade de mortos causados pela doença. Todavia, a expectativa de Haroldo é a mesma de toda a sociedade que busca condições melhores de vida. “Minha expectativa para esse semestre é que chegue a vacina. Para ver as pessoas, abraçá-las, ver os alunos. Talvez agora a sala de aula seja ainda mais gostosa porque estamos vivenciando isso como se estivéssemos aprendendo mais sobre essa troca. A gente vai estar tão maravilhado de estarmos juntos de novo que os debates podem ser melhores ainda”.
Quem sabe tão breve professores e alunos possam desfrutar da grande troca de ensinamentos e vivências partilhadas diariamente, no calor diário e institucional, principalmente nos cursos de Comunicação da Universidade Católica de Salvador. Enquanto esses dias não chegam, sobram saudades, debates, aprendizados e um grande crescimento interpessoal e interdisciplinar, formando um novo semestre para recordar.
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