O primeiro Ba-Vi do ano é a antítese do futebol com a sociedade
- Jardel Messias
- 13 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Últimas semanas marcaram recordes de mortes no estado e no país pelo Coronavírus. Ainda assim, Bahia e Vitória disputam seu primeiro clássico na busca por estabilidade.
Por Jardel Messias
O maior clássico do futebol baiano está de volta neste sábado, em jogo válido pela 3ª rodada da Copa do Nordeste, no estádio Manoel Barradas. Dessa vez, não terá um Barradão lotado, com festa, ou qualquer tipo de aglomeração. Em um panorama bem diferente, as equipes chegam para um confronto atípico em algumas esferas, principalmente no extracampo. Pouco mais de um ano depois do último Ba-Vi pela Copa do Nordeste, tricolores e rubro-negros irão em busca de uma estabilidade que parece distante por enquanto.
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Hora do Leão rugir em sua toca
O Vitória volta a receber um clássico pela Copa do Nordeste no Barradão pela primeira vez desde 2017, quando venceu o rival por 2 a 1 em jogo válido pela semifinal desta edição. Desde então, o Leão não vence o Tricolor em seus domínios. A última vitória no clássico foi no último confronto entre ambos na Arena Fonte Nova, em 2020, quando venceu por 2 a 0, com gols de Thiago Carleto e Vico. Para repetir o resultado neste sábado, o Vitória deve apostar numa fórmula que funcionou para neutralizar o adversário nos últimos anos: jogar mais fechado, deixar o Bahia jogar com a posse e negar espaços, tentando decidir em contra-ataques ou bolas paradas.

Um triunfo rubro-negro mantém o time no grupo dos quatro classificados para a próxima fase da Copa do Nordeste. Entretanto, um revés pode deixar o time fora do G4. Rodrigo Chagas, técnico do Vitória, tem alguns reforços para a partida. O atacante Wesley, contratado por empréstimo pelo Red Bull Bragantino, é o que chama mais atenção. A contratação foi bem contestada por grande parte da torcida rubro-negra, devido ao histórico de condenação por agredir a ex-namorada. Os protestos contaram com participações de torcedoras do Bahia também nas redes sociais para apoiar a causa feminina. O clube ainda não se posicionou oficialmente sobre o caso.

O lateral-esquerdo Roberto, contratado do CSA, e o atacante Walter também podem aparecer durante a partida, embora no segundo tempo. O goleiro Ronaldo ainda segue afastado do time titular, mesmo depois de brilhar no último triunfo rubro-negro na Arena Fonte Nova, no ano passado. O presidente do Vitória, Paulo Carneiro, anunciou que o jogador iria a campo somente se renovasse com o clube.
Hora do Esquadrão confirmar o favoritismo
No lado tricolor, uma goleada por 7 a 1 pela Copa do Brasil durante a semana contra o Campinense não foi capaz de sossegar a torcida. O Bahia decepcionou demais na última temporada e esse ano a cobrança será dobrada por mais entrega e desempenho. O time principal começou com um tropeço contra o Botafogo (PB) no último sábado, no Estádio de Pituaçu, porém segue na 2ª colocação, atrás do Ceará. Um triunfo pode levar a equipe ao topo do grupo A e manter o favoritismo para o confronto. O Esquadrão só perdeu um clássico entre os últimos 14 disputados na capital baiana. O desafio é confirmar esse favoritismo em um momento decisivo e são nesses momentos que o clube mais tem falhado.

O técnico Dado Cavalcanti não deve fazer grandes alterações para a partida deste sábado. A natureza do confronto deve fazer ele adotar uma postura mais cautelosa para o confronto, colocando um jogador com maior poder de contenção para não sobrecarregar o Patrick na defesa. Para essa função, Dado pode escalar Ramon, conhecido do treinador pelo Campeonato Baiano de 2020, ou fazer a estreia de Pablo. O último foi recém contratado pelo Esquadrão depois de ser campeão da Série C pelo Vila Nova (GO). A expectativa é de ter um meio campo com Patrick, Ramon e Daniel (ou Pablo), além de Rossi, Gilberto e Rodriguinho na frente.
Ainda colhendo prejuízos do último ano, por conta da pandemia e de fatores do próprio futebol do time, o Bahia vem sendo mais cuidadoso nas contratações, preferindo jogadores mais baratos e jovens para compor o elenco. A justificativa dada pelo presidente Guilherme Bellintani é para ter um elenco mais “esfomeado” e disposto a lutar pelo clube. Algumas saídas também significaram esse processo de reformulação do elenco, como Ernando, Zeca e Anderson, por exemplo. Um triunfo nesse sábado pode dar mais tranquilidade para a Diretoria seguir o processo.
Hora de repensarmos o futebol
Quase um ano depois do início das medidas preventivas no estado da Bahia por conta da pandemia do Coronavírus, a paralisação do futebol volta a ser repensada em todo o Brasil. O número de casos voltou a aumentar de forma considerável e quase todos os estados encontram-se em situação de colapso na área de saúde, com falta de leitos para atendimento e uma crescente no índice de mortes em todo o país. A Bahia vive seu momento mais crítico desde o começo da pandemia.
A partida de hoje parece até um anticlímax com o momento social vivido no Estado. Depois de todas essas questões citadas, o futebol figura entre os dois lados, assim como existem ganhadores ou perdedores. O futebol é uma paixão, uma atividade que movimenta torcidas, festas e muitas emoções. Tem uma capacidade incrível de mobilizar as pessoas de forma econômica, social e até política. E nesse ponto, colecionam-se vitórias e memórias a serem celebradas.
Todavia, o futebol de hoje, nesse contexto pandêmico, é completamente diferente. Não existem festas, não existem torcedores nos estádios. Não existe a resenha do pré ou do pós-jogo na Ladeira da Fonte ou no estacionamento do Barradão. Mal nos remetemos à clássica e feroz rivalidade entre rubro-negros e tricolores. Mal conseguimos absorver tantos casos e preocupações por uma pandemia que nos assola e torna o futebol pequeno diante de tudo. É um clássico atípico, descaracterizado, onde ele mal começou, mas é notável que neste placar, todos perdemos.
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