Artes Marciais e Pandemia
- Lathara Veríssimo
- 26 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Como os professores e organizações de Artes Marciais se reinventaram durante a quarentena.
Lathara Veríssimo
Pensar em formas de se reinventar e recriar todo o seu modo de trabalho não foi uma tarefa fácil para boa parte dos profissionais durante o período de pandemia. Pior ainda quando a profissão envolve uma série de preceitos tradicionais e essencialmente relacionados à presença física e ao contato direto. Essa foi a realidade encontrada pelos milhares de profissionais de artes marciais em todo o mundo. Academias fechadas, treinos suspensos, campeonatos cancelados e mais uma séries de desafios que forçaram todos ao desafio de recriar suas técnicas e métodos.
Com o fechamento das academias em março, a maior parte dos professores de artes marciais perdeu sua principal fonte de renda: as aulas. Até então a grande maioria seguia dependente do modo tradicional de ensino que traz necessariamente o contato físico em boa parte das aulas. Outro problema foi que muitos desses profissionais têm pouquíssimo contato com as redes digitais, mostrando-se relutantes em ensinar por meio das câmeras.
Ao olharmos diretamente para a realidade do nosso país, uma forte característica dos professores de artes marciais – genuínos e não coachs - é a rara familiaridade com as redes sociais. Talvez este seja um dos motivos que falsos professores que têm habilidades de marketing vêm se fortalecendo. Mas a quarente chegou e veio à obrigação a todos que quisessem continuar exercendo a profissão durante o período, que aprendesse e se adaptassem a essa nova realidade.
O trabalho de comunicação digital obrigatório foi uma enorme quebra de barreira para muitos profissionais que até então acreditavam mais na importância da divulgação boca a boca, ou por outros métodos impressos como panfletos e outdoors. Passaram então a levar sua metodologia e didática para além das paredes das academias e com um bônus do retorno de comunicação imediato, da troca com os alunos espectadores.
Outra consequência muito positiva para as artes marciais é crescimento de volume de conteúdo audiovisual em redes como o youtube e instagram. Profissionais que antes não sabiam das potencialidades dessas redes e que hoje, devido a quarentena se tornaram produtores de um rico conteúdo. Essas ações hoje preenchem uma enorme lacuna que a arte marcial tinha no Brasil, que é o material de estudo registrado.
Alguns anos atrás quando eu falava com profissionais de artes marciais sobre a importância da construção da imagem digital, de redes sociais bem elaboradas, a maior parte respondia que só precisaria postar que academia estava cheia de alunos. Hoje, mesmo com a rotina se ajustando ao novo estado de normalidade e as academias reabrindo, muitos professores já mostram uma mudança no comportamento em suas redes. A ideia de uma estratégia de comunicação e muitas vezes até a contratação de profissionais, o que até então eram atitudes rejeitadas fortemente.
Os Campeonatos
Outro setor muito afetado pela quarentena foi o de organizações de eventos. Campeonatos por todo o globo tiveram de ser cancelados ou adiados. Eventos milionários como o UFC e o Glory entraram em um hiato. Trazendo enormes prejuízos tanto para os atletas que se dedicam fisicamente, psicologicamente e financeiramente para a participação nesses eventos quanto para as organizações de eventos que possuem equipes de profissionais dedicadas a implementação do calendário anual de eventos.
As soluções logo chegaram através de adaptações digitais ou limitantes para esses campeonatos. Os eventos menores criaram versões on line e por vezes gratuitos de disputa, incentivando a participação de atletas que antes sequer poderiam comparecer no evento presencial. Com isso as federações acabaram fortalecendo digitalmente e ampliando seus portais de comunicação e estruturas virtuais. O que hoje é essencial independente de pandemia e que ainda estava em muito atraso por parte de diversas organizações.
Lições
É inegável que a pandemia trouxe enormes prejuízos de todos os tipos e para boa parte das pessoas. Porém, ela provou necessidades que até então estavam passando despercebidas. Precariedades estruturais que até o momento de isolamento não eram tratadas como prioridades e hoje se mostram essenciais para os profissionais e para as organizações. A maior parte se trata de uma adaptação a situação global que há alguns anos já estamos vivendo, que é da era das redes sociais.
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