Away e a reflexão do propósito
- Jardel Messias
- 22 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Nova série da Netflix aposta em ficção científica e drama para envolver seus espectadores.
Jardel Messias
Se o cinema não tem trazido novidades por conta da pandemia do novo coronavírus, as plataformas digitais seguem buscando alternativas para manter seus clientes antenados em suas novidades, séries e filmes. Lançada neste mês de Setembro, Away é uma boa oportunidade para distrair os adeptos de ficção científica e de drama. Criada e dirigida por Andrew Hinderaker, o roteiro foi inspirado no Away, artigo publicado pelo jornalista Chris Jones, na revista Esquire, onde descrevia a rotina do astronauta Scott Kelly em sua jornada, contendo problemas pessoais relacionados à distância da família e às pressões psicológicas as quais era submetido.
Com 10 episódios, a nova série da Netflix se passa diante de um contexto extraordinário: a primeira expedição a pousar em Marte. Embora tenha uma apresentação mais científica, a produção acaba envolvendo um grande drama, seja com seus personagens e seus contextos; ou com alguns problemas na expedição, como a higienização, possibilidade da cegueira, entre outros aspectos.
A série gira em torno da Comandante Emma Green (Hilary Swank) e seus comandados especialmente selecionados para a missão de buscar novas alternativas em Marte. Acompanham-na nessa jornada a química chinesa Lu (Vivian Wu), o botânico britânico Kwesi (Ato Essandoh), o copiloto indiano Ram (Ray Panthaki) e o engenheiro russo Misha (Mark Ivanir).
O começo pode trazer uma certa letargia, por parecer mais do mesmo, considerando que vários filmes encenaram uma ida à Marte ou uma jornada espacial em busca de um fato histórico. Entretanto, no decorrer dos primeiros episódios, o aspecto dramático torna a série mais interessante, além da busca pela sobrevivência para a manutenção da missão.
O questionamento sobre o propósito de cada um torna a jornada dos astronautas mais complexa. É onde o drama reside, dando um bom desenvolvimento às personagens, envolvendo embates políticos, pessoais e sociais. O propósito pessoal de cada um começa sendo o esperado pouso em Marte. Todavia, cada um desenvolve um aspecto pessoal e que faz esse objetivo ser mais secundário.
Para Emma Green, a distância da família acaba sendo o seu maior sacrifício. Deixar sua filha e seu marido na busca de uma realização pessoal e histórica. Um propósito muito maior do que o esperado. Para a chinesa Lu, a ideia é representar a pátria, a honra, o serviço, com a incubência de ser a responsável pela primeira foto de um humano em Marte, até se deparar diante de uma situação onde os seus maiores afetos a fazem refletir sobre qual será seu propósito no fim de tudo.
Misha, engenheiro e considerado “pai do espaço”, carrega consigo a bagagem de suas grandes experiências e mágoas que estas missões causaram, quebrando relações familiares e na busca da reconstrução desses laços. Kwesi, pelo contrário, vive sua primeira jornada espacial, e traz consigo o aspecto divino; o propósito da vontade de Deus para a missão e em todos os caminhos. Simbolicamente, ele é o responsável por levar a “vida” para Marte, uma agridoce ironia considerando seu histórico familiar e suas origens.
O Ram leva consigo a fé sob outra perspectiva: encontra fé nas pessoas. Especialmente em sua comandante, a qual defende em qualquer circunstância. Diferente dos outros, a questão familiar não se tornou um peso ou desafio, porém a motivação necessária para ele buscar o espaço.
Ainda sem confirmações sobre a segunda temporada, a série aponta para o desenvolvimento desses conflitos de uma forma mais madura. Embora a perspectiva maior fosse conquistar uma nova possibilidade no espaço, as personagens desenvolveram a maior humanidade que poderiam encontrar em si mesmos e em seus parceiros de jornada.
Away é uma jornada vista sob um propósito especial e principal, rodeada de outros pequenos propósitos e grandes sacrifícios. Afinal, quais outros limites poderiam ser atravessados? A distância para a Terra não é só física, no fim das contas. Em um campo subjetivo, todos devem aceitar o peso de suas escolhas, principalmente pensando numa volta, onde eles não serão os mesmos, tampouco quem eles deixaram.
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